domingo, 6 de novembro de 2011

Fiéis defuntos, Purgatório e Todos os Santos

Novembro começa trazendo para nós a reflexão acerca da morte e da vida eterna. O dia dos fiéis defuntos, ou “dia de finados”, nos convida a celebrarmos a esperança do encontro com Deus daqueles que já deixaram esta vida, e a recordarmos de que somos pó, e ao pó retornaremos (cf. Gênesis 3, 19). É tempo que chama à conversão.
Quando já está totalmente purificada, a alma vai ao encontro de Deus
Orando por aqueles que já partiram, para que, se estiverem no purgatório, Deus os conceda logo sua entrada no paraíso, estamos cumprindo um desejo de Deus e um dever como cristãos e batizados, que é orar pelos irmãos…
“Intensificai as vossas invocações e súplicas. Orai em toda circunstância, pelo Espírito, no qual perseverai em intensa vigília de súplica por todos os cristãos.”
(E
fésios 6, 18)

“Confessai os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros para serdes curados.” (Tiago 5, 16a)
… vivos ou mortos, pois pertencemos a Cristo, e somos membros do Seu Corpo, nesta e na outra vida…
“Se vivemos, vivemos para o Senhor; se morremos, morremos para o Senhor. Quer vivamos quer morramos, pertencemos ao Senhor.” (Romanos 18, 14b)
“Ora, vós sois o corpo de Cristo e cada um, de sua parte, é um dos seus membros.”
(I Coríntios 12, 27)
… pois professamos isto a cada vez que rezamos “[…] Creio no Espírito Santo / Na Santa Igreja Católica / Na comunhão dos santos […]” e muitas vezes nem nos damos conta. A fé católica é sólida e nos dá a consciência de que podemos e devemos orar pelos que já partiram deste mundo, intercedendo por eles, ou pedindo sua intercessão.

Vejamos um pouco sobre a morte, o purgatório e os santos:
Almas expiam seus últimos pecados no PurgatórioAo morrer, o homem passa pelo que a Igreja chama de Juízo Particular, levando-o ao céu ou inferno, conforme a vida que tenha levado, sua conversão ou renúncia a Deus, seu arrependimento ou conivência com o pecado.
Contudo, certas almas podem ter morrido sem total estado de graça, ou restando em si certas manchas de pecado que por si só não são suficientes para atira-las ao inferno, mas são um empecilho para sua entrada imediata no céu.
Deus é justo, portanto permite que estas almas se purifiquem para que possam entrar em contato com a suprema pureza do céu. É o que chamamos de Purgatório. Cristo, através de uma comparação, dá a enter aos seus discípulos esta doutrina:
“Entra em acordo sem demora com o teu adversário, enquanto estás em caminho com ele, para que não suceda que te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao seu ministro e sejas posto em prisão. Em verdade te digo: dali não sairás antes de teres pago o último centavo.(Mateus 5, 25-26)
O Catecismo da Igreja Católica nos fala:
§1023 Os que morrem na graça e na amizade de Deus, e que estão totalmente purificados, vivem para sempre com Cristo. São para sempre semelhantes a Deus, porque o vêem "tal como ele é" (1Jo 3,2), face a face (1Cor 13,12):
Com nossa autoridade apostólica definimos que, segundo a disposição geral de Deus, as almas de todos os santos mortos antes da Paixão de Cristo (...) e de todos os outros fiéis mortos depois de receberem o santo Batismo de Cristo, nos quais não houve nada a purificar quando morreram, (...) ou ainda, se houve ou há algo a purificar, quando, depois de sua morte, tiverem acabado de fazê-lo, (...) antes mesmo da ressurreição em seus corpos e do juízo geral, e isto desde a ascensão do Senhor e Salvador Jesus Cristo ao céu, estiveram, estão e estarão no Céu, no Reino dos Céus e no paraíso celeste com Cristo, admitidos na sociedade dos santos anjos. Desde a paixão e a morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, viram e vêem a essência divina com uma visão intuitiva e até face a face, sem a mediação de nenhuma criatura.

Entretanto, não devemos viver esperando pelo purgatório, nem sermos desleixados no caminho da santidade, contando com esta “entrada mais fácil” no Céu. Rezamos para Deus apressar a saída do purgatório de um ente querdio justamente porque não é fácil passar por esta purificação. As almas do purgatório sofrem não por um capricho de Deus, mas sofrem de saudade e ansiedade, pois estão tão próximos do Céu, mas ainda não o podem ter. Estas almas lamentam e se arrependem por não terem mudado e corrigido suas falhas ainda na terra, pois se o tivessem feito, já estariam com o Pai. O purgatório é uma misericórdia, uma gentileza de Deus, mas melhor que depender dela é merecer uma entrada direta no Céu.
Entendendo o Juízo Particular, precisamos diferencia-lo do Juízo Final. O Catecismo da Igreja Católica nos diz:
§1038 A ressurreição de todos os mortos, "dos justos e dos injustos" (At 24,15), antecederá o Juízo Final. Este será "a hora em que todos os que repousam nos sepulcros ouvirão sua voz e sairão: os que tiverem feito o bem, para uma ressurreição de vida; os que tiverem praticado o mal, para uma ressurreição de julgamento" (Jo 5,28-29). Então Cristo "virá em sua glória, e todos os anjos com Ele. (...) E serão reunidas em sua presença todas as nações, e Ele há de separar os homens uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos, e por as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. (...) E irão estes para o castigo eterno, e os justos irão para a Vida Eterna" (Mt 25,31-33.46).
§1039 É diante de Cristo - que é a Verdade - que será definitivamente desvendada a verdade sobre a relação de cada homem com Deus. O Juízo Final há de revelar até as últimas conseqüências o que um tiver feito de bem ou deixado de fazer durante sua vida terrestre […]
§1040 O Juízo Final acontecerá por ocasião da volta gloriosa de Cristo. Só o Pai conhece a hora e o dia desse Juízo, só Ele decide de seu advento. Por meio de seu Filho, Jesus Cristo, Ele pronunciará então sua palavra definitiva sobre toda a história. Conheceremos então o sentido último de toda a obra da criação e de toda a economia da salvação, e compreenderemos os caminhos admiráveis pelos quais sua providência terá conduzido tudo para seu fim último. O Juízo Final revelará que a justiça de Deus triunfa de todas as injustiças cometidas por suas criaturas e que seu amor é mais forte que a morte.
Devemos estar em comunhão, como corpo de Cristo que somos, rezando uns pelos outros, e pedindo que rezem por nós, pois esta união é desejo de Deus, e é instrumento de crescimento espiritual. Deus nos concede a oportunidade, o caminho, todos os meios necessários para chegarmos a Ele, e além disso nos permite interceder e ter quem interceda por nós, aqui na terra, e pertinho dEle. Neste domingo comemoramos o dia de Todos os Santos, estes homens e mulheres que passaram pela terra, e souberam dizer não ao pecado. São nossos intercessores, pois não estão inertes lá no Céu, nem são egoístas. Querem que tenhamos a mesma recompensa que eles, querem nos ajudar para que um dia estejamos todos juntos na glória eterna. Dizia Santa Teresinha:
“Quero passar o meu céu fazendo o bem sobre a terra!”
Se o próprio Deus nos convida “Sede santos como Eu sou Santo” (I Pedro 1, 16), isso é o maior indicativo da existência dos santos, pois Deus jamais nos chamaria a algo inalcançável. Vemos ainda, em Hebreus, a menção aos santos, como pessoas que atingiram o ideal proposto por Deus: “Vós, ao contrário, vos aproximastes da montanha de Sião, da cidade do Deus vivo, da Jerusalém celestial, das miríades de anjos, da assembléia festiva dos primeiros inscritos no livro dos céus, e de Deus, juiz universal, e das almas dos justos que chegaram à perfeição […]” (Hebreus 12, 22-23). Não há porque duvidar! Admitir a existência destas almas benditas, de sua intercessão por nós, e suplicar que roguem a Deus por nossas causas não é, de maneira nenhuma coloca-los no lugar de Deus, nem diminuir sua importância.
O Apocalipse de São João vem nos confirmar a presença dos santos no céu, e seu papel de intercessores:
“Depois disso, vi uma grande multidão que ninguém podia contar, de toda nação, tribo, povo e língua: conservavam-se em pé diante do trono e diante do Cordeiro, de vestes brancas e palmas na mão, e bradavam em alta voz: A salvação é obra de nosso Deus, que está assentado no trono, e do Cordeiro.
Então um dos Anciãos falou comigo e perguntou-me: Esses, que estão revestidos de vestes brancas, quem são e de onde vêm?
Respondi-lhe: Meu Senhor, tu o sabes. E ele me disse: Esses são os sobreviventes da grande tribulação; lavaram as suas vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro.Por isso, estão diante do trono de Deus e o servem, dia e noite, no seu templo.”
(Apocalipse 7, 9-10.13-15a)
“Adiantou-se outro anjo e pôs-se junto ao altar, com um turíbulo de ouro na mão. Foram-lhe dados muitos perfumes, para que os oferecesse com as orações de todos os santos no altar de ouro, que está adiante do trono.
4. A fumaça dos perfumes subiu da mão do anjo com as orações dos santos, diante de Deus.”
(Apocalipse 8, 3-4)
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Muitas pessoas interpretam erroneamente a passagem de I Timóteo 2, 5 : “Porque há um só Deus e há um só mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo […]” insinuando que tal passagem nega a intercessão dos santos, de Maria. Analisando o contexto e as demais passagens nas quais Cristo é chamado de mediador (conferir: Hb 9, 15 ; Hb 12, 24), esta palavra não significa “intercessor”, e sim “meio, caminho”, e sempre se refere à salvação, pois se refere a Cristo como mediador da Nova Aliança, e mostra que a mediação se dá pela sua morte.
Além disso, voltando na passagem inicial, e olhando mais amplamente o texto, temos o seguinte:
“Acima de tudo, recomendo que se façam preces, orações, súplicas, ações de graças por todos os homens, pelos reis e por todos os que estão constituídos em autoridade, para que possamos viver uma vida calma e tranqüila, com toda a piedade e honestidade.
Isto é bom e agradável diante de Deus, nosso Salvador, o qual deseja que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade.
Porque há um só Deus e há um só mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo, homem que se entregou como resgate por todos. Tal é o fato, atestado em seu tempo”

(I Timóteo 2, 1-6)
No texto, São Paulo já inicia nos convidando a intercedermos a Deus pelos irmãos. Porque razão ele iria afirmar logo abaixo que Jesus é o único intercessor? Irmãos, a bíblia quando é lida fora da interpretação correta serve mais para a desgraça do que para o bem. Quantas divisões, quantas seitas nasceram por causa de uma má interpretação dos textos bíblicos? Quantos católicos ficam confusos, perturbados, quantos são ofendidos e quantos até mesmo abandonam sua religião por causa de erros como estes?
purgatoriomissaNão tenha vergonha de sua fé! Não deixe de pedir a intercessão ao seu santo de devoção, a Nossa Senhora, ao Anjo da Guarda… não abandone as devoções populares como o santo rosário, as novenas, a oração pelas almas do purgatório… peça para que se rezem Missas para o alívio destas almas. Deus olha com bons olhos estes pequenos gestos.
O Santo Padre, o Papa Bento XVI, afirma que “[…]na pressa de viver o cotidiano, nos esquecemos que a meta da nossa existência é o encontro com Deus – uma meta que se alcança através da santidade, e, por isso, não é reservada aos poucos eleitos, e sim é o dever de cada ser humano, a cada dia”. E nos lembra: “[…]para ser santo não é preciso fazer ações e obras extraordinárias, nem possuir carismas excepcionais”. “É preciso somente servir a Jesus, escuta-lo e segui-lo sem desanimar diante das dificuldades. A santidade exige um esforço constante, mas é possível a todos, pois mais que obra do homem, é um dom de Deus”.
Louvado seja o Nosso Senhor Jesus Cristo!
Para sempre seja louvado.

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