Novembro começa trazendo para nós a reflexão acerca da morte e da vida eterna. O dia dos fiéis defuntos, ou “dia de finados”, nos convida a celebrarmos a esperança do encontro com Deus daqueles que já deixaram esta vida, e a recordarmos de que somos pó, e ao pó retornaremos (cf. Gênesis 3, 19). É tempo que chama à conversão.
Orando por aqueles que já partiram, para que, se estiverem no purgatório, Deus os conceda logo sua entrada no paraíso, estamos cumprindo um desejo de Deus e um dever como cristãos e batizados, que é orar pelos irmãos…
… vivos ou mortos, pois pertencemos a Cristo, e somos membros do Seu Corpo, nesta e na outra vida…“Intensificai as vossas invocações e súplicas. Orai em toda circunstância, pelo Espírito, no qual perseverai em intensa vigília de súplica por todos os cristãos.”
(Efésios 6, 18)“Confessai os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros para serdes curados.” (Tiago 5, 16a)
“Se vivemos, vivemos para o Senhor; se morremos, morremos para o Senhor. Quer vivamos quer morramos, pertencemos ao Senhor.” (Romanos 18, 14b)“Ora, vós sois o corpo de Cristo e cada um, de sua parte, é um dos seus membros.”
(I Coríntios 12, 27)
… pois professamos isto a cada vez que rezamos “[…] Creio no Espírito Santo / Na Santa Igreja Católica / Na comunhão dos santos […]” e muitas vezes nem nos damos conta. A fé católica é sólida e nos dá a consciência de que podemos e devemos orar pelos que já partiram deste mundo, intercedendo por eles, ou pedindo sua intercessão.
Vejamos um pouco sobre a morte, o purgatório e os santos:
Contudo, certas almas podem ter morrido sem total estado de graça, ou restando em si certas manchas de pecado que por si só não são suficientes para atira-las ao inferno, mas são um empecilho para sua entrada imediata no céu.
Deus é justo, portanto permite que estas almas se purifiquem para que possam entrar em contato com a suprema pureza do céu. É o que chamamos de Purgatório. Cristo, através de uma comparação, dá a enter aos seus discípulos esta doutrina:
“Entra em acordo sem demora com o teu adversário, enquanto estás em caminho com ele, para que não suceda que te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao seu ministro e sejas posto em prisão. Em verdade te digo: dali não sairás antes de teres pago o último centavo.” (Mateus 5, 25-26)O Catecismo da Igreja Católica nos fala:
§1023 Os que morrem na graça e na amizade de Deus, e que estão totalmente purificados, vivem para sempre com Cristo. São para sempre semelhantes a Deus, porque o vêem "tal como ele é" (1Jo 3,2), face a face (1Cor 13,12):Com nossa autoridade apostólica definimos que, segundo a disposição geral de Deus, as almas de todos os santos mortos antes da Paixão de Cristo (...) e de todos os outros fiéis mortos depois de receberem o santo Batismo de Cristo, nos quais não houve nada a purificar quando morreram, (...) ou ainda, se houve ou há algo a purificar, quando, depois de sua morte, tiverem acabado de fazê-lo, (...) antes mesmo da ressurreição em seus corpos e do juízo geral, e isto desde a ascensão do Senhor e Salvador Jesus Cristo ao céu, estiveram, estão e estarão no Céu, no Reino dos Céus e no paraíso celeste com Cristo, admitidos na sociedade dos santos anjos. Desde a paixão e a morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, viram e vêem a essência divina com uma visão intuitiva e até face a face, sem a mediação de nenhuma criatura.
Entretanto, não devemos viver esperando pelo purgatório, nem sermos desleixados no caminho da santidade, contando com esta “entrada mais fácil” no Céu. Rezamos para Deus apressar a saída do purgatório de um ente querdio justamente porque não é fácil passar por esta purificação. As almas do purgatório sofrem não por um capricho de Deus, mas sofrem de saudade e ansiedade, pois estão tão próximos do Céu, mas ainda não o podem ter. Estas almas lamentam e se arrependem por não terem mudado e corrigido suas falhas ainda na terra, pois se o tivessem feito, já estariam com o Pai. O purgatório é uma misericórdia, uma gentileza de Deus, mas melhor que depender dela é merecer uma entrada direta no Céu.
Entendendo o Juízo Particular, precisamos diferencia-lo do Juízo Final. O Catecismo da Igreja Católica nos diz:
§1038 A ressurreição de todos os mortos, "dos justos e dos injustos" (At 24,15), antecederá o Juízo Final. Este será "a hora em que todos os que repousam nos sepulcros ouvirão sua voz e sairão: os que tiverem feito o bem, para uma ressurreição de vida; os que tiverem praticado o mal, para uma ressurreição de julgamento" (Jo 5,28-29). Então Cristo "virá em sua glória, e todos os anjos com Ele. (...) E serão reunidas em sua presença todas as nações, e Ele há de separar os homens uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos, e por as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. (...) E irão estes para o castigo eterno, e os justos irão para a Vida Eterna" (Mt 25,31-33.46).Devemos estar em comunhão, como corpo de Cristo que somos, rezando uns pelos outros, e pedindo que rezem por nós, pois esta união é desejo de Deus, e é instrumento de crescimento espiritual. Deus nos concede a oportunidade, o caminho, todos os meios necessários para chegarmos a Ele, e além disso nos permite interceder e ter quem interceda por nós, aqui na terra, e pertinho dEle. Neste domingo comemoramos o dia de Todos os Santos, estes homens e mulheres que passaram pela terra, e souberam dizer não ao pecado. São nossos intercessores, pois não estão inertes lá no Céu, nem são egoístas. Querem que tenhamos a mesma recompensa que eles, querem nos ajudar para que um dia estejamos todos juntos na glória eterna. Dizia Santa Teresinha:
§1039 É diante de Cristo - que é a Verdade - que será definitivamente desvendada a verdade sobre a relação de cada homem com Deus. O Juízo Final há de revelar até as últimas conseqüências o que um tiver feito de bem ou deixado de fazer durante sua vida terrestre […]
§1040 O Juízo Final acontecerá por ocasião da volta gloriosa de Cristo. Só o Pai conhece a hora e o dia desse Juízo, só Ele decide de seu advento. Por meio de seu Filho, Jesus Cristo, Ele pronunciará então sua palavra definitiva sobre toda a história. Conheceremos então o sentido último de toda a obra da criação e de toda a economia da salvação, e compreenderemos os caminhos admiráveis pelos quais sua providência terá conduzido tudo para seu fim último. O Juízo Final revelará que a justiça de Deus triunfa de todas as injustiças cometidas por suas criaturas e que seu amor é mais forte que a morte.
Se o próprio Deus nos convida “Sede santos como Eu sou Santo” (I Pedro 1, 16), isso é o maior indicativo da existência dos santos, pois Deus jamais nos chamaria a algo inalcançável. Vemos ainda, em Hebreus, a menção aos santos, como pessoas que atingiram o ideal proposto por Deus: “Vós, ao contrário, vos aproximastes da montanha de Sião, da cidade do Deus vivo, da Jerusalém celestial, das miríades de anjos, da assembléia festiva dos primeiros inscritos no livro dos céus, e de Deus, juiz universal, e das almas dos justos que chegaram à perfeição […]” (Hebreus 12, 22-23). Não há porque duvidar! Admitir a existência destas almas benditas, de sua intercessão por nós, e suplicar que roguem a Deus por nossas causas não é, de maneira nenhuma coloca-los no lugar de Deus, nem diminuir sua importância.“Quero passar o meu céu fazendo o bem sobre a terra!”
O Apocalipse de São João vem nos confirmar a presença dos santos no céu, e seu papel de intercessores:
“Depois disso, vi uma grande multidão que ninguém podia contar, de toda nação, tribo, povo e língua: conservavam-se em pé diante do trono e diante do Cordeiro, de vestes brancas e palmas na mão, e bradavam em alta voz: A salvação é obra de nosso Deus, que está assentado no trono, e do Cordeiro.
Então um dos Anciãos falou comigo e perguntou-me: Esses, que estão revestidos de vestes brancas, quem são e de onde vêm?
Respondi-lhe: Meu Senhor, tu o sabes. E ele me disse: Esses são os sobreviventes da grande tribulação; lavaram as suas vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro.Por isso, estão diante do trono de Deus e o servem, dia e noite, no seu templo.”
(Apocalipse 7, 9-10.13-15a)
“Adiantou-se outro anjo e pôs-se junto ao altar, com um turíbulo de ouro na mão. Foram-lhe dados muitos perfumes, para que os oferecesse com as orações de todos os santos no altar de ouro, que está adiante do trono.
4. A fumaça dos perfumes subiu da mão do anjo com as orações dos santos, diante de Deus.”
(Apocalipse 8, 3-4)
Muitas pessoas interpretam erroneamente a passagem de I Timóteo 2, 5 : “Porque há um só Deus e há um só mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo […]” insinuando que tal passagem nega a intercessão dos santos, de Maria. Analisando o contexto e as demais passagens nas quais Cristo é chamado de mediador (conferir: Hb 9, 15 ; Hb 12, 24), esta palavra não significa “intercessor”, e sim “meio, caminho”, e sempre se refere à salvação, pois se refere a Cristo como mediador da Nova Aliança, e mostra que a mediação se dá pela sua morte.
Além disso, voltando na passagem inicial, e olhando mais amplamente o texto, temos o seguinte:
“Acima de tudo, recomendo que se façam preces, orações, súplicas, ações de graças por todos os homens, pelos reis e por todos os que estão constituídos em autoridade, para que possamos viver uma vida calma e tranqüila, com toda a piedade e honestidade.No texto, São Paulo já inicia nos convidando a intercedermos a Deus pelos irmãos. Porque razão ele iria afirmar logo abaixo que Jesus é o único intercessor? Irmãos, a bíblia quando é lida fora da interpretação correta serve mais para a desgraça do que para o bem. Quantas divisões, quantas seitas nasceram por causa de uma má interpretação dos textos bíblicos? Quantos católicos ficam confusos, perturbados, quantos são ofendidos e quantos até mesmo abandonam sua religião por causa de erros como estes?
Isto é bom e agradável diante de Deus, nosso Salvador, o qual deseja que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade.
Porque há um só Deus e há um só mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo, homem que se entregou como resgate por todos. Tal é o fato, atestado em seu tempo”
(I Timóteo 2, 1-6)
O Santo Padre, o Papa Bento XVI, afirma que “[…]na pressa de viver o cotidiano, nos esquecemos que a meta da nossa existência é o encontro com Deus – uma meta que se alcança através da santidade, e, por isso, não é reservada aos poucos eleitos, e sim é o dever de cada ser humano, a cada dia”. E nos lembra: “[…]para ser santo não é preciso fazer ações e obras extraordinárias, nem possuir carismas excepcionais”. “É preciso somente servir a Jesus, escuta-lo e segui-lo sem desanimar diante das dificuldades. A santidade exige um esforço constante, mas é possível a todos, pois mais que obra do homem, é um dom de Deus”.
Louvado seja o Nosso Senhor Jesus Cristo!
Para sempre seja louvado.
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